sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Memória: Heleninha recorda em entrevista sua trajetória no rádio

Heleninha com a amiga e radialista Artemisa Azevedo
Uma das últimas entrevistas de Heleninha foi concedida à repórter Rosemary Cavalcante em 2008, nas comemorações dos 50 anos da Rádio Nacional de Brasília AM.  Na ocasião, a radialista formada em Letras e Direito contou como iniciou sua trajetória no rádio, com o programa Encontro com Tia Leninha, e falou do  sucesso que alcançou na região amazônica.

Rosemary Cavalcante - As pessoas acham que a criança só entende quando você fala,  faz essa coisa que soa meio falsa, que a gente geralmente não faz isso  na conversa. A gente vira um personagem. Você que tem uma experiência de tanto tempo de conversar com a criança, o que você diz sobre isso?

Heleninha Bortone – Olha, na verdade eu nunca pensei nisso. Aliás, eu sugeri o programa para Rita [Furtado, gerente da Rádio Nacional da Amazônia, na ocasião], ela adorou a ideia. Na época, era presidente da Radiobras o general Massa [Lourival Massa da Costa] e o general adorou. Adorou porque ele também, quando criança, ouviu durante muito tempo [programa direcionado as crianças]. Então ele disse: ‘que maravilha nós termos de volta no rádio de Brasília’. Porque não tinha nem no mundo, era o único do mundo, tanto que eu concorri ao premio Onda de Barcelona, me acharam aqui, entendeu? Quer dizer, eu fui indicada ao prêmio Ondas de Barcelona. Uma coisa que a gente nem sonhava, porque era o único no gênero no mundo inteiro. Eu nem sabia disso.

Eu, na verdade, não sou psicóloga, não sou pedagoga. Eu sou formada em Letras e Direito. Então, a minha formação não tem nada a ver com criança. O que acontece é que eu fazia um programa de gente grande para criança. Parece que é a praxe, porque Monteiro Lobato escreveu para gente grande dizendo que era para crianças aquela maravilha de obra, que ninguém superará. Ziraldo faz a mesma coisa. Mauricio de Sousa  faz a mesma coisa, os adultos leem os gibis dele como as crianças leem, adoram, é uma coisa que agrada gregos e troianos. Então, é a praxe mesmo.

Rosemary Cavalcante - E quanto tempo de duração tinha esse programa?

Heleninha Bortone  -
Uma hora.  A princípio, começamos com meia hora, a meu pedido. Eu falei: ‘vamos experimentar’. Só que com meia hora, nos primeiros sete dias, nós já tínhamos mais de 500 cartas na mão.

Rosemary Cavalcante - Ele era diário?

Heleninha Bortone - Era diário e eu levei um susto. Eu levei, Rita levou  e foi um boom. No segundo mês, já tínhamos 5 mil, 6 mil cartas  chegando. Por quê? Porque era uma novidade. Quer dizer, estava chegando uma coisa para Amazônia inteira,  para o Brasil inteiro que não existia. Para o pessoal daquela época não existia mais [programas infantis], porque [após] 50 anos, as pessoas esquecem que existia. Aí eu fiquei 20 anos no ar com esse programa, até 1999. 

E no primeiro ano, aí sim, eu já comecei a inventar. Eu falei: ‘bom, eu quero fazer algumas modificações’. Fiz radioteatro, fiz novela. A primeira  chamou-se História do Dito Gaioleiro, a respeito desses gaioleiros que fazem gaiolas  e arapuqueiros que pegam os passarinhos silvestres. Eu fiz a voz do Dito, do menino,  e aqui dentro [da Rádio Nacional da Amazônia] mesmo.  Nosso elenco foi formado assim: era a telefonista, o porteiro, o Burrinho [locutor Edson Nery], a Artemisa Azevedo, todo mundo, Sula Sevilles, maravilhosa. E fiz várias novelas, uma atrás da outra.   

Rosemary Cavalcante - Durante os 20 anos de programas,  você lembra de alguma coisa que aconteceu de diferente? Você falou que recebeu muitas cartas. Destas cartas, você lembra de alguma que foi especial para você? 
 
Heleninha Bortone - Se eu for falar, tem coisas assim que as pessoas não vão acreditar, mas que acontecia naquela época. [...] A minha contagem, em 20 anos, foram 6,728 milhões de cartas. Este número não dá para esquecer. Então, por exemplo, eu recebi uma carta que eu diria trágica, mas de qualquer maneira eu estive com esse professor que tinha 28 anos e aparência de 48. Ele lecionava em uma escolinha no meio da mata, no meio do seringal, e ele mandou os dentes de uma onça que atacou um dos alunos dele e matou, um garoto de 8 anos, que era muito meu fã.


Ouça a entrevista completa concedida por Heleninha Bortone a repórter Rosemary Cavalcante

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