sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Me dá sua Mão conta a história da verdadeira amizade entre Zeca e Marcos

Heleninha escreveu livros como Me dá sua Mão. Foto: Marcello Casal.
Marcos convivia com seus sonhos, numa casa grande demais para seu tamanho. Uma casa que tinha tudo. Piscina, quarto de brinquedos, um pai, uma mãe, duas irmãs moças e quatro empregados.
Da porta da entrada da casa até o portão era um espaço enorme de jardins e grama. O portão dava para a rua. Lá sim, era animado. Carros passando, gente carregando pacotes, sorveteiros gritando, meninos brincando, muitas coisas alegres. Este era o mundo do outro lado do portão da casa de Marcos.
Ele passava horas agarrado às grades bonitas. Um dia arriscou uma pergunta, com o coração aos pulos:
- Menino, onde você mora?
Um garoto um pouco maior que ele se aproximou do portão e com a maior naturalidade respondeu:
- Moro longe. Você mora nesta casa aqui?
- Moro.
- Bacana, sua casa, né?
- É. Quer entrar?
- Quero.
Marcos correu contente a pedir ao Luís que abrisse o portão. Mas não conseguiu fazer seu novo amigo entrar.
Marcos voltou ao portão muito sem jeito, não sabendo o que dizer ao menino. Vinha triste e com raiva do Luís. Não entendia ainda que o motorista só cumpria ordens.
- Olha, menino, eu procurei a chave do portão mas não achei. Volta outra hora, tá bom?
- Não faz mal. Eu pulo o portão. Pode?
- Pode.
- Como é seu nome?
- Marcos, e o seu?
- Meu nome é Zeca. Puxa, você deve ser muito rico, heim? Você tem tudo que quer?
- Não.
- Ah, então não é rico. Gente rica tem tudo que quer.
Passaram um bom tempo brincando. Agora, era hora de ir embora, antes que alguém o visse. Marcos disse ao amigo que voltasse outras vezes.
No quarto dia de espera, Marcos ouviu uma voz vinda do portão.
- Marquinhoooo!
O amigo tinha voltado. Marcos saiu em disparada. Feliz.
- Pula logo o portão. Entra.
Nesse momento, o carro de Dona Lúcia encostava.
- Quem é esse menino, Marcos?
- É o Zeca, meu amigo.
Zeca desistiu da subida. Voltou para trás.
- Menino, sabia que é muito feio pular o portão da casa dos outros?
Zeca fez que sim com a cabeça.
- Pois então vá para sua casa. Aqui não é pra brincar mais. viu?
Zeca abanou a mão para o Marcos e se afastou.
- Quantas vezes te pedi para não conversar com os meninos de rua?
- Mas Zeca não é um menino de rua.
- Por que você não faz amigos na escola? Podia trazê-los aqui para brincar. Será possível que tenho que te colocar no colégio o dia inteiro? Quem sabe assim você faz amigos...
Marcos chorou. Foi para o quarto. Enxugou as lágrimas, mas não adiantou. A tristeza não secou.
A vida voltou ao que era antes. Da escola para casa, televisão, brinquedos, sempre sozinho.
Numa 2ª feira, quando todos haviam saído, Marcos aproveitou para brincar no portão. Pegou dois carrinhos e imaginando estradas e pontes passou algum tempo. De repente surge o Zeca.
- Oi, Marcos, tudo bom?
- Oi.
- Não vim antes porque não queria que você levasse castigo por minha causa. Vamos brincar?
- De que jeito?
- Ué, um dum lado do portão, outro do outro. Me dá um carrinho. Você fica com o outro. Vamos imaginar que do meu lado é uma rua, do seu é outra.
Fizeram isso. Brincaram por mais de meia hora.
Deste dia em diante Zeca só chegava quando via que Marcos estava sozinho.
Marcos andava feliz. Pensava: "Puxa, o Zeca é a melhor pessoa do mundo. Nem se importa de ficar de fora do portão". É bem verdade que cansava os braços brincar pela grade, mas valia a pena. Valia a pena qualquer sacrifício para ter o amigo.
- Zeca, amanhã à noite acho que vai dar pra você entrar.
- Como?
- Tem festa. O portão vai ficar aberto. Quando você perceber que já entrou uma porção de pessoas, entra também e me espera no jardim.
- Marcos, topa fazer um *trato*?
- Topo. Que trato?
- De ser amigo pro resto da vida.
Marcos esticou o braço, deu a mão para o amigo e "fecharam" o compromisso.
- Sabe, quando eu crescer vou abrir esse portão.
- Claro, aí ninguém vai dizer nada, né?
Tudo aconteceu conforme o combinado. Zeca entrou, sentou no banco e esperou. Marcos não demorou chegar. Se jogou nos braços do amigo para um abraço.
Mas o inesperado aconteceu. Dona Lúcia.
- Marquinhos, esse não é o menino que vi em cima do portão?
- É.
- E você menino, não disse que fosse embora? Você é maior que o Marcos, pensei que tivesse mais juízo.
Marcos continuava agarrado à mão do Zeca.
- Marcos, como é que você traz pra casa uma pessoa que não conhece, filho?
Nesse instante Marcos começou a se defender.
- Mãe, o Zeca é meu amigo. Meu único amigo. Aqui não tem ninguém pra brincar comigo. Eu gosto dele. O Zeca faz comida em casa, ajuda a tia e ainda vem todo dia brincar. Pensa que não cansa ficar de braço esticado no portão? Essa casa é muito grande, cabe muito bem o Zeca e eu. O Zeca não é um menino de rua. Lembra aquele carro vermelho? Dei pra ele. E ele já me deu 26 bolinhas de gude. Ele joga, ganha e me dá. Nunca aprendi a jogar. Como é que posso aprender com aquela grade no meio? Pode me colocar no colégio o dia inteiro. Lá também deve ter portão. Fizemos um trato de ser amigos pro resto da vida. O Zeca, mãe... O Zeca é o meu próximo, viu?
Dizendo isso, Marcos pegou a mão do Zeca e iam se encaminhando para o portão.
Dona Lúcia tinha um nó na garganta e os olhos cheios d'água. Disse baixinho ao marido:
- Chame esses meninos de volta... parecem tão iguais...

2 comentários:

  1. Oi Boa noite a todos,li essa história quando eu era criança no livro que a gente estuda não me lembro a série faz uns 30 anos ,eu nunca esqueço me emocionou na época e e me emociona hj.Falava com meus filhos sempre sobre essa história de Marcos e Zeca ,me marcou muito na infância.Hoje consegui graças a Internet meu filho conseguiu achar e eu li para meus filhos.Muita emoção!!Eu gostaria muito Lee essa história novamente e consegui.Momento único.Parabens a escritora.Historia maravilhosa, inesquecível.

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  2. Que sensação única,depois de tantos anos,me emocionei a uns 30 anos atrás e hj me emocionou novamente.Amei e sentia muita vontade de ler essa história pros meus filhos,hj consegui que alegria.Uma história que nunca vou esquecer.Li a primeira vez na escola e agora fiquei emocionada com a emoção da leitura.Parabéns á escritora valeu muito a pena reler e imaginar a história de Marcos e Zeca.Me marcou muito nunca esqueço.bj a todos quem não leiu,Leia.Vale muito a pena.

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